Instituto de Biociências

Manejo de palmeiras invasoras

Foto: Paulo Diaz.

Segundo a Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (CDB, 1992), uma espécie é considerada exótica quando situada em um local diferente da sua distribuição natural, devido à introdução mediada por ações humanas, voluntárias ou involuntárias. Se esta espécie consegue se estabelecer no novo habitat, aumenta sua distribuição e ameaça a biodiversidade local, então é considerada exótica invasora.

É o que ocorre com a Archontophoenix cunninghamiana, originária da Austrália, atualmente é encontrada em outras partes do mundo, inclusive no Brasil. Inicialmente usada para ornamentação, ela rapidamente se espalhou devido à sua boa adaptação na Mata Atlântica.

A invasão da palmeira australiana na RFIB vem sendo monitorada há bastante tempo por meio de estudos, com levantamentos em uma mesma parcela contínua de 2,1 ha, contabilizando apenas indivíduos com diâmetro acima de 9,5 cm. 

A população encontrada por Dislich, Kisser & Pivello (2001) em estudo realizado entre 1997 e 1999, foi de 310 indivíduos, sendo que em 2002, foram observados 368 indivíduos (Pivello, Russo, Ferrini & Dislich, 2003) e, em 2005, este número cresceu para 464 (Zupo & Pivello, 2007). Neste último estudo, foram encontradas dez espécies exóticas na parcela, totalizando 505 indivíduos, dos quais A. cunninghamiana representou 91,9% desta quantidade e 31,8% do número total de indivíduos contabilizados. O levantamento também mostrou que entre 2004 e 2005, a espécie invasora apresentou crescimento líquido de 8,63% ao ano, taxa maior do que a dos anos anteriores.

Mengardo, A. L. T. & Pivello, V. R. (2007) verificaram que, apesar de possuir tendência de floração da primavera ao outono e frutificação no verão, a palmeira não apresenta padrões acentuados de sazonalidade, produzindo o ano todo. Além disso, os cachos apresentaram mais de 3 mil frutos, os quais possuem pouco valor nutricional, com 19% de polpa e baixa taxa de proteínas em relação a açúcares e lipídios.  

O que estes estudos mostram é que esta espécie invasora possui um sistema de reprodução muito eficiente, pois devido à produção intermitente e à grande quantidade de frutos chamativos para os animais frugívoros, principalmente aves, ela é facilmente dispersada, favorecendo o crescimento populacional observado. Ainda segundo Oliveira (2020), outras características que explicam o grande sucesso da palmeira é a sua alta resistência à seca, baixa suscetibilidade à herbivoria por invertebrados e polinização por diversas espécies de abelhas nativas.

Esse processo se caracteriza como invasão, pois à medida que a palmeira se dispersa e cresce rapidamente, ela produz sombra excessiva no solo, inibindo o crescimento de espécies nativas. Com menos espécies da flora nativa, também falta alimento e habitat para a fauna, que é intrinsecamente dependente do ambiente de Mata Atlântica. Portanto, a presença da A. cunninghamiana coloca em risco a biodiversidade da fauna, da flora e dos diversos outros grupos que compõem a cadeia trófica da RFIB. 

Logo, fica clara a necessidade da implementação de um plano de manejo com objetivo de controlar o crescimento populacional desta espécie na RFIB. A Comissão está atualmente trabalhando em um plano de supressão de indivíduos com DAP > 5cm na Reserva. Além disso, o plano prevê o plantio compensatório de espécies nativas, como a Juçara (Euterpe edulis) e o Jerivá (Syagrus romanzoffiana). Este plano busca seguir todas as normas e leis de manejo de Reservas Florestais da USP, do município, estado e federação. 


Referências:

Mengardo, A. L. T. & V.R. Pivello. 2007. Caracterização fenológica da palmeira invasora Archontophoenix cunninghamiana e do teor nutricional de seus frutos: subsídio ao manejo ambiental no Campus da Universidade de São Paulo, SP. In: Anais do 58º Congresso Nacional de Botânica, São Paulo - SP.